ESPIGA PINTO
Desprende-te e separa-te, tu que tens de nascer.
Centrífugo, não faças gravitação alheia.
Bem sei que a tribo te vigia o percurso
e se exorbitas, ralha-te. Que queres?
Antes nascer do caos que da ordem da tribo.
Brandem-te a regra, mostram-te a medida.
Que sabem eles disso para além do colarinho?
Ralham-nos a todos, mas, depois,
trocam o ralho pela admiração
— e é com a admiração que nos querem perder.
Desprende-te e separa-te, tu que tens de nascer.
A desconhecida está à tua espera, está à tua esfera
e já te mostra o seu rosto-pendão.
— Alexandre O’Neill (1924-1986)
Publicado no catálogo de Exposição de ESPIGA Pinto – Galeria 111 – Maio de 1969.
Página do catálogo da exposição de ESPIGA Pinto, inaugurada a 16 de Maio de 1969, na Galeria 111, em Lisboa.