“Unlike Resende, for whom the Alentejo was above all a discovery at a certain stage in his life, Espiga Pinto’s paintings are a vision of an ‘encounter’ with deep roots, still an echo of the Vila Viçosa of his childhood and adolescence. Yes, Espiga’s work is a powerful reminder of distance and fulfilment in his paintings, whose themes neither change nor vary, but rather extend as the continuity of an identical human landscape, where its essential values are unchanging. Symbolising an open and coherent universe (the ‘circle’, the ‘wheel’), which in his art represents infinity, the whole world, the return to the origins, Espiga’s drawings, engravings and spheres – the large and small, revolving spheres, with everything inside, which are now his greatest obsession as an absolute and perfect representation of that being there for others, which is us – reveal themselves to us as a form and plastic transposition of an art or way of being a painter that is quite characteristic among the many painters considered to be from Alentejo. Standing alongside Ribeiro Pavia, Dórdio Gomes, Resende and so many others who linked their art and the expression of their painting to the overwhelming, desert nature of the Alentejo, Espiga Pinto is undoubtedly distinguished by the unerasable fidelity of the ‘signs’ she has carried with her for years.
An emotive and sensorial painting, Espiga’s art is not (it hasn’t been to date) a quest, but an encounter with his personal way of being a painter, of always knowing how to give us the full image of his unalterable Alentejo.”
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Serafim Ferreira was born in Porto in 1939 and dedicated his life to books; he was a writer, literary critic, translator and editor. During the 1960s, he settled in Lisbon, where he was head of the Ulisseia publishing house, for which ESPIGA Pinto created numerous covers. Serafim Ferreira died in Lisbon in 2015.
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Ao contrário de Resende, para quem o Alentejo foi sobretudo uma descoberta em certa fase da sua vida, os quadros de Espiga Pinto afirmam-se como visão plena de um “encontro” de raízes profundas, eco ainda da Vila Viçosa da sua infância e adolescência. Sim, a obra plástica de Espiga recorda-nos em força que há de distância e de plenitude nos seus quadros, cujos temas não se alteram nem variam, antes se prolongam como continuidade de idêntica paisagem humana, onde os seus valores essenciais são inalteráveis. Símbolo de um universo aberto e coerente (o “círculo”, a “roda”), que representa no seu mundo plástico o infinito, o mundo todo, o regresso das origens, os quadros desenhos, gravuras e esferas de Espiga – as esferas grandes e pequenas, giratórias, com tudo lá dentro, que são agora a sua obsessão maior como representação absoluta e perfeita desse valer pelos outros que somos nós — revelam-se-nos como forma e transposição plástica de um arte ou maneira de ser pintor bastante característica entre os muitos pintores considerados alentejanas. Posta ao lado de Ribeiro Pavia, Dórdio Gomes, Resende e tantos outros que à natureza esmagadora e desértica do Alentejo vincularam a sua arte e a expressão da sua pintura, Espiga Pinto distingue-se, sem dúvida, pela fidelidade inapagável dos “sinais” que traz consigo desde há anos.
Pintura emotiva e sensorial, a arte de Espiga não é (não tem sido até hoje) uma procura, mas sim um encontro com a sua maneira pessoal de ser pintor, de saber sempre dar-nos a plena imagem do seu inalterável Alentejo.
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Serafim Ferreira nasceu no Porto, em 1939; foi escritor, crítico literário, tradutor e editor. Durante os anos 1960, instalou-se em Lisboa, onde foi responsável da Editora Ulisseia, para a qual ESPIGA Pinto criou inúmeras capas. Serafim Ferreira morreu em Lisboa, em 2015.
Source: poster of ESPIGA Pinto’s 1968 exhibition at the Portuguese Society of Fine Arts / Fonte: Cartaz da exposição de ESPIGA Pinto na Sociedade Nacional de Belas-Artes